quarta-feira, 21 de março de 2007

Vai cortar cana, Lula !!!!

O presidente Lula chamou os usineiros de cana-de-açúcar de heróis. Nacionais e mundiais, devido ao aumento da procura pelo etanol como cobustível alternativo aos derivados de petróleo.
Os novos heróis de Lula são descendentes ou apadrinhados das famílias que detinham o poder no segundo ciclo econômico do Brasil Colonial - o da cana - e aí se vão uns 350 anos.
Lula costumava referir-se a eles como integrantes das "elites que há 500 anos governam esse país e nada fizeram".
Agora, graças à "política que existe para o setor", os "bandidos do agronegócio" de 10 anos atrás, conforme o próprio residente referiu, tornaram-se heróis. Ou seja, Lula resgatou os bandidos com sua política de biocombustíveis. Lula fez os heróis.
Embora impregnado de idiotia, o mal-disfarçado júbilo messiânico sobre si próprio não é o pior na colocação do presidente.
O pior é, na tentativa de fazer um afago ao setor, de cooptar o apoio dos usineiros, Lula ignorar a História, o contexto social e sobretudo, o sofrimento de boa parte dos brasileiros.
Que heroísmo reside no fato de se ser detentor de milhares de hectares de terra, obtidos de favor da coroa portuguesa, preservá-los à base da força, sobre eles assentar vasto poder político (ou os coronéis nordestino são invenções da literatura e telenovelas?) e enriquecer a partir do trabalho quase escravo de tantos?
Há poucos dias, o quadro Profissão Repórter do Fantástico nos atualizou a respeito. Os cortadores de cana ganham no máximo R$ 2 por hectare cortado. Será por isso que os usineiros ganharam tanto dinheiro e poder ao longo de três séculos e meio? Talvez hoje haja melhores condições de trabalho para esses lavradores - até porque seria difícil piorar de como era -, mas R$ 2 o hectare dão o que pensar.
Lula por certo não assistiu àquela matéria do Fantástico. Também por nunca ter sido muito chegado a trabalhar, não deve ter parado para pensar o que significa cortar um hectare de cana e ganhar R$ 2. Diz o que o povo quer ouvir durante a campanha eleitoral e o que "as elites" apreciam quando no governo.
Lula envergonha seu discurso e faz indagar onde é que estão as lembranças dele da época da "Caravana da Cidadania", quando o PT pagou para ele viajar o Brasil para conhecer os problemas sociais e, pretensamente, se preparar para as eleições de 1994.
Lula vai comemorar a exportação de etanol tomando uma cachacinha com os usineiros.
R$ 2 por hectare? Vai cortar cana pra ver quem é herói, Lula !!!!

segunda-feira, 12 de março de 2007

Meio-termo

Se a verdade de um é um extremo,
e a verdade de outro, o outro extremo
o meio-termo será uma parte da verdade de ambos

Prefiro

correr o risco de ser mal-avaliado pelo empenho em ter feito
do que ser bem avaliado por omissão ou comodismo

quinta-feira, 8 de março de 2007

Talvez, Nação

Cresci ouvindo que o Brasil era o país do futuro. Meus pais, da geração da industrialização de Vargas e Juscelino, cresceram ouvindo que o brasil seria o pais do futuro. Meus avós, que acompanharam toda a transição do Brasil rural, do café e da cana-de-açúcar, para o país urbano farto em minérios, cresceram ouvindo que o Brasil seria o país do futuro. Até meus bisavós e os pais deles, ao rumarem da Itália na leva da imigração da década de 1870, projetavam na América - e, por extensão, no Brasil onde viriam parar - o ideal de pátria adequada para se construir o futuro.
Pois em tempos de planeta superaquecido pela queima de combustíveis fósseis e a possibilidade de o petróleo acabar antes mesmo das guerras em torno dele, o Brasil é líder em tecnologia na produção de biocombustíveis - e um dos primeiros em produção de matérias-primas necessárias. Até o Bush está interessado.
Finalmente, uma perspectiva de futuro para o Brasil (se o superaquecimento não nos - humanidade - puser em vias de extinção).
Só vai faltar domar a corrupção generalizada, modernizar ao ponto de praticamente reinventar os mecanismos de Estado; consertar o Judiciário que sabota a Justiça; liquidar todas as instãncias de impunidade; recriar o sistema de saúde pública; pôr em prática a convicção da educação dfe qualidade; forjar um conceito verdadeiro de cidadania; reformular a convivência entre Estado e sociedade, extirpando o paternalismo, de um lado, e o parasitismo, do outro; dissolver a crença de que Estado e sociedade estão separados, haver interesse em uma mídia construtiva, executar a cultura de paz e da ética além das faixas e passeatas resignadas ou de protesto, entre muitas - sabemos - outras coisas.
Enfim, Brasil e brasileiros comprometidos como Nação.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Contos bizarros do cotidiano ou Contos do cotidiano bizarro

Três minutos para as 17h. Entro na distribuidora dos Correios em Lourdes, que fecha às 17h. Sou atendido por uma mulher (NR: dúvida a esse respeito) que, para anunciar a minha vez, não diz "o próximo!", "pois não?" sequer um singelo "pra ti?". Nem "Você?", "Tu!" ou "Hunf!". Não, ela bate com o punho no balcão e lança-me um olhar de dono de taberna que vai cobrar a conta da bebida atrasada.
Explicado o interesse, a viking, digo, a atendende, pergunta meu nome. Duas vezes. E se vai, consultar com as colegas e o "sistema". Vaivém, correspondência não encontrada. Procura daqui, dali, ela volta, com uma lista - a lista dos sedex do dia, viria eu a saber depois - e, claro, perguntando meu nome, afinal era só a terceira vez que fazia isso:
- Nome?
- Ariel. Rossi Griffante.
E ela folheando a lista, Ana,... Arnaldo,... Maria,... talvez uma Sonáli,... mas nada de Ariel...
- Não é Marco Antônio?
Uát!?!? O que? Como? Indaguei-me internamente comigo mesmo? O ogro está mesmo me perguntando se meu nome é mesmo o meu nome, sugerindo que possa ser outro? À escolha, como num cardápio, vestido de lista do dia do sedex:
"Marco Antônio? Não? Que tal Horácio? É pomposo. Pedro, mais simplesinho? Talvez... Sonáli, eu juro que vi uma por aqui...."
- Não - defini - É Ariel mesmo. "Desde que nasci", achei bom frisar.
Vai que ela tivesse alguma dúvida.


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E o ogro-viking-mulher se foi, no seu passo bamboleante de elefante que tomou um tiro de tranqüilizante. Olhei pro lado, tinha um cara. Tive ganas de comentar o caso com ele. Sabe-se lá por que necessidade de desabafo ou por uma busca primal de compartilhamento humano que levasse a alcançar níveis mais elevados de entendimento da experiência em que estava metido. Virei a cabeça, ensaiei mentalmente a construção da frase, senti o calor que vinha do estômago atravessar o peito procurando a garganta para se transformar em palavras quando....
- Tec, tec, tec,...
- Tec, tec, tec ?
Sim. TEC! TEC! E TEC!
O animal tava cortando as unhas!!!! Calma, languidamente, como quem estivesse na varanda de casa no sábado à tarde!!! Com cortador e tudo. Dá-lhe tec, tec, tec. E nada de apanhar as unhas cortadas. Ia cortando e os pedacinhos disparando em todas as direções. E eu ali, esperando um possível alienígena vestido de gente encontrar minha correspondência com um sujeito do meu lado cortando as unhas num lugar público - que não era um banheiro público. E juro que o cara tinha mais dedos que o normal, tamanha a quantidade de tecs-tecs que eu ouvi.
Minha única idéia naquele segundo era ir pra casa, me enfiar embaixo do colchão e indagar por que, pelos céus, precisamos fazer parte da experiência humana sobre a Terra !?!?!?


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Recebo meu documento (com o nome "Ariel" e tudo!). Agora estou licenciado para rodar tranqüilo pela estrada afora depois de dois anos sem regularizar a situação do "veículo" e um ano em que, simultaneamente, minha CNH estava vencida. Dou uma volta enorme até a Clínica do Sapato. Sim, o lugar existe... O caso é que eu tinha um cinto pra arrumar e ali também é uma espécie de clínica do cinto. Compromisso prosaico, o sei. Sempre os reneguei - conforme testemunham meu licenciamento e CNH vencidos. Mas preciso aprender a enfrentá-los, quase num gênero inusitado de reeducação psíquica. Lá fui eu.
Cinto consertado, colocado no lugar (como é o nome daquelas presilhas onde a gente encaixa o cinto?), calças não caindo mais,... já tive algo produtivo no meu dia... Avante! Entro no carro, escolho o caminho para a próxima parada, faço a volta.
E deparo com uma fila. Enorme. De carros, caminhões, bicicletas. Até naves espaciais poderia haver. Preciso "convergir" à direita mas estou na pista da esquerda. Não há alternativa, pois seguir na minha pista significa dar outra volta na quadra e parar no mesmo lugar. É um labirinto de um caminho só. Um moto-contínuo.
Ligo a seta-sinaleira-seja-o-nome-que-for para a direita. Escolho entrar à frente de um caminhão. "Caminhões sempre são mais lentos na arrancada - raciocino, rápido -"e isso pode me dar a vantagem que preciso para me enfiar na frente dele. E esse tem uma máquina pesada no lugar da caçamba. Vai dar.
Olho para o caminhoneiro, indico, sinalizo, torço o carro. Faço o possível para mostrar meu desejo, interesse e ânsia em receber um espacinho para mudar de pista e convergir à direita. Ouço uma buzinada. Não dou bola, naquele tumulto. Vou indo. Outra buzina! Seria o caminhão? Um motoqueiro enlouquece! Vem pela esquerda da esquerda do caminhão, ou seja, a minha esquerda, e tenta me cortar a frente! Tensão! Mais uma buzina! É o caminhoneiro! Súbito, o motoqueiro freia! Pára! Suspense! O caminhão vai! Eu no meio! Adrenalina! Acelero e... garanto meu espaço! Consigo manobrar entre a moto e o caminhão...! Saltei para a outra pistal convergi à direita. Suspiros, alívio,... sigo meu rumo.
Mas espere!!!! Tem o retrovisor. Miro nele e vejo o caminhoneiro e sua máquina pesada no lugar da caçamba atravessando o cruzamento sem olhar para a frente. Ele torce o pescoço e olha para mim. Fita. Espreita. Provavelmente, pela expressão que carrega, com a alma carregada de imprompérios. Faço a volta, vou atravessar logo outra rua e tomar a via que preciso. Sinal aberto, e lá vamos nós! E quem está parado no novo cruzamento? Oh, sim!!! Oh, não!!! O caminhão !!! Cruzo a pista mas meu instinto recôndito não resiste e confere o motorista com o olhar. Quero saber porque me encarou tão agressivamente antes. Ele percebe e mantém a expressão feroz. Ninguém hesita. Interpõe-se um duelo em trânsito naquele fragmento de tempo suspenso no ar mormacento do fim de tarde nublado, enquanto faço valer o sinal verde e atravesso o cruzamento passando à frente do gigante de aço contido pelo sinal vermelho.
Irrefreável em sua fúria, o homem põe a cabeça pra fora da janela e irrompe em indignação. Grita algo que não entendo, mas percebo o quanto é para ser ofensivo. Sem tirar os olhos dele, ergo o dedo médio da mão direita e a coloco pela janela, firme e suscinto. Réplica merecida. Nada teria se alterado naquele emaranhado de cruzamentos se ele tivesse, lá no início, cedido-me espaço para "convergir à direita". Sigo sem mais olhar pra trás, com convicção inquebrantável na minha razão! ...mas, confessando, muito mais torcendo para nunca mais encontrar aquele caminhoneiro no trânsito.
Ele pode ser um cara ressentido, ter boa memória, sei lá...

Poema para os amigos

Recheios do meu bombom
Lírios do meu jardim
Luvas do meu garçom
Buracos do meu cupim

Pérolas do meu anel
Pétalas da minha rosa
Guisados do meu pastel
Estrofes da minha prosa

Orvalhos da minha manhã
Aromas do meu vinho
Tentações da minha maçã
Orquídeas no meu caminho

Bolhas do meu sabonete
Havaianas do meu domingo
Delícias do meu banquete
Tortéis em prato de gringo

Em cada um dos significados
E sentidos da minha paixão
Sabei vós que estão guardados
Dois palmos abaixo do meu coração